Dá para evitar que meu bebê seja mordido na creche?

Dá para evitar que meu bebê seja mordido na creche?

O ano vai começar e com ele, algumas preocupações são recorrentes entre quem trabalha com educação infantil e também entre os pais que pela primeira vez vão se afastar de seu bebê e confiá-lo aos cuidados de uma outra instituição, que não a família.

Uma preocupação que tira o sono de qualquer professora que atua com os berçários e turmas de até 2 anos de idade é a questão das mordidas.

E essa também é uma preocupação das famílias, pois ninguém gosta de ter um bebê mordido. Isso independente de você ser a professora, a mãe, o pai, e ainda, se o seu bebê mordeu ou foi mordido.

Se buscarmos pela questão na internet, é possível achar reportagens que tratam as mordidas entre bebês como caso de polícia, como caso de saúde, como questão a ser acompanhada pelo conselho tutelar… Hoje estamos aqui para dizer que é preciso encarar as mordidas entre os bebês como uma questão pedagógica que deve ser enfrentada pelas creches e que precisa contar com o apoio das famílias, a partir de algumas informações importantes:

Uma questão biológica:

Em primeiro lugar, é preciso entender que o desenvolvimento humano passa por etapas distintas. O primeiro ano de vida é marcado pela fase oral (segundo classificação de Freud), o que significa que eles exploram o mundo por meio da boca e que a experiência de prazer é atravessada pelas ações de sugar, ou de morder, quando os dentes começam a nascer. Se nos apoiarmos nas teorias de Piaget, diremos que até os dois anos, os bebês vivem o período sensório-motor, que significa que a percepção do mundo pelos bebês ocorre por meio das sensações. Um bebê que morde, a partir dessas teorias, nada mais está fazendo que explorar o mundo e o colega, sem compreender que essa exploração pode causar ao outro alguma dor.

Uma questão social:

No campo da sociologia da infância, William Corsaro afirma que as crianças observam o mundo ao seu redor e reproduzem o que veem de um modo muito peculiar. A este processo, ele denomina reprodução interpretativa. Diversos outros sociólogos, antes dele, já destacavam o papel da imitação no processo de socialização.

Pois bem…

Os bebês são seres humanos pequenos, fofos e “deliciosos” e em toda família, há sempre pelo menos uma pessoa que não resiste à “vontade de morder” essas pequenas criaturas.

Mas o que em casa é um ato de amor e carinho, na creche vira um problema imenso. Porque em casa, quando um adulto morde um bebê, o faz com delicadeza e controlando muito a força da mordida. Mas o bebê não sabe controlar sua força.

Então, quando ele decide manifestar seu carinho pelo colega do mesmo modo que os pais demonstram carinho por ele em casa… e não controla sua força, ou ainda, aproveitar para sugar um pouco o colega, ou morder mesmo, porque isso alivia a coceira na gengiva… O resultado não é nada agradável para os demais envolvidos.

Portanto, a primeira coisa importante de sabermos: Nenhum bebê morde o outro porque é mau ou tem uma índole ruim. Bebês que mordem estão experimentando seu corpo, e muitas vezes, reproduzindo práticas que vivenciam em outros espaços.

Papel da família:

Como pais, se você não quer que seu bebê morda os coleguinhas, não deixe que ninguém morda seu filho ou filha também. Precisamos começar esse processo educativo pelo exemplo.

A disputa por brinquedos

Outro aspecto que em geral pode terminar em uma mordida, são as disputas por brinquedos. Ainda que os bebês em questão não tenham aprendido a “falar”, podemos, desde muito cedo ensinar formas de eles se comunicarem entre si e evitar problemas desnecessários.

Ensinar a pedir um brinquedo, fazendo um gesto com as mãozinhas pode ser uma saída. E ensinar os outros a fazer a leitura desse gesto.

Se um bebê estende a mão e pede um brinquedo (talvez ela já consiga dizer “dá”?), devemos estimular também o outro bebê em questão e dizer algo como “veja, seu amigo está pedindo para ver seu brinquedo um pouco. Vamos emprestar para ele?”.

O papel de mediação do adulto nesse momento é fundamental para que o brinquedo possa ser emprestado e possa também ser devolvido usando a mesma dinâmica: “você quer o brinquedo de volta? Vamos pedir para o amigo? ( e repete o gesto e quando possível o som “dá”?) Com o tempo, eles vão aprender que essa estratégia funciona.

Mas se um bebê morde o outro para conseguir um brinquedo, é fundamental que ele não possa ter o brinquedo em disputa. Ele deve aprender que morder não funciona para conseguir algo. Mas se ele pedir, aí sim, deve ter o direito de brincar um pouco com o brinquedo em questão.

Uma questão pedagógica.

As creches não são um depósito de crianças! Hoje há diversos documentos que regulamentam a educação infantil, compreendida como a primeira etapa da educação básica, e que tem como objetivos, promover o desenvolvimento integral da criança, por meio de interações e brincadeiras, favorecendo assim, a socialização.

Uma questão de ética

Se entendemos que as mordidas são um “acidente de percurso” decorrente da relação entre os bebês, e se somos PROFISSIONAIS da educação, que possuem formação específica para atuar com bebês e crianças pequenas e que compreendemos as etapas do desenvolvimento infantil e o processo de socialização infantil, então nos compete ajudar os bebês a encontrar outras formas de se expressar (seja a expressão do descontentamento com algo , seja a expressão de afeto em relação a algum colega, seja o desejo por um brinquedo ou por atenção).

A comunicação e as linguagens adotadas nesse processo também são aprendizagens. Não se trata de algo simples e muitas vezes os bebês e as crianças precisarão de nosso apoio para descobrirem formas mais adequadas de expressar seus sentimentos e desejos sem ferir os colegas.

Oferecer esse suporte aos bebês é parte das atribuições de todas e todos os que exercem a docência na educação infantil.

É importante ter em mente que colocar um bebê de castigo, puní-lo ou rotulá-lo, nesses casos, não vai ajudar muito!

Informar às demais famílias quem foi o “autor” das mordidas, cria um estereótipo de “mordedor” e não ajuda. “Prender” o bebê que morde em berços e carrinhos, separando-os dos demais, também não vai ajudá-lo a usar outras estratégias em uma próxima oportunidade.

É preciso oferecer alternativas de expressão para cada tipo de situação vivida. No caso de disputa de brinquedo, ensinar a pedir esticando a mãozinha e usando a expressão “dá”, e ensinar quem está com o brinquedo a ser solidário e ceder um pouco de vez em quando, costuma surtir bons resultados.

E estar sempre atento e pronto para intervir ou acolher, quando necessário, também é fundamental.

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